sábado, outubro 21, 2017

Comparar o incomparável


Como disse e bem Sérgio Conceição na conferência de imprensa de ontem, um treinador é que toma as decisões. E se as entende justificar ou não, obviamente é uma questão da sua consciência. No entanto, o treinador do líder da Liga NOS errou, e a dobrar.

Em primeiro lugar porque a necessidade de justificar a decisão não se prende com o interesse dos jornalistas, mas sim com o facto destes traduzirem aquilo que é o interesse do público. Não haverá certamente um adepto dos dragões que não se questione porque Casillas foi para o banco, quando nada o fazia prever. Os jornalistas não são mais do que um veículo de comunicação, neste caso entre os adeptos do Porto, e do futebol em geral, e o treinador dos azuis e brancos. Caso não tivesse justificado a decisão (fê-lo de forma pouco clara, ainda assim) estaria a ignorar os seus adeptos e esses não pode, nem deve, ignorar ou deixar de procurar fazer-se entender junto deles.

O segundo e maior erro que cometeu foi querer justificar a sua decisão comparando-a com a situação que se passa num rival. Referir que Júlio César também está no banco e tem 26 títulos não é mais do que o discurso do coitadinho, a mim apontam o dedo e ao treinador do Benfica não. Obviamente ninguém pode apontar o dedo a Rui Vitória por tirar um guardião veterano, que claramente já não está em condições físicas de continuar a exercer a profissão e cuja qualidade decresceu de forma assustadora nos últimos dois anos, lançando-se a questão de ser o exemplo de um jogador que não sabe sair por cima e acabará a carreira como alguém que nos últimos tempos apenas se arrastou nos relvados.

Já Casillas é um guarda-redes veterano em pleno nas suas capacidades. Que pelo menos no ano passado e neste foi um bastião da segurança defensiva da sua equipa. E que pelo rendimento em campo (é impossível avaliar a postura nos treinos ou fora do campo pois aí entramos num campo privado ao qual não temos acesso) não há a mínima justificação para proceder à sua substituição. Ainda para mais num momento em que o Porto está a dominar a Liga NOS e estava com uma prestação equilibrada a nível da Liga dos Campeões, com tudo em aberto em termos de passagem à fase seguinte (que se mantém, contudo).

Também a comparação entre José Sá e Mile Svilar, pela diferença de tratamento da comunicação social aos dois erros dos guarda-redes dos dois candidatos ao título, é um péssimo exemplo de Sérgio Conceição, mais uma vez para sacudir água do capote quando não tinha que o fazer se tivesse sabido argumentar a decisão que tomou.

É óbvio que o tratamento a um jovem de 18 anos que fez na quarta-feira o segundo jogo da sua carreira de profissional não pode ser igual à de um guarda-redes de 24 anos, que tem cerca de 30 internacionalizações nos últimos dois escalões antes da Seleção A, mas ambos já seniores, escalões onde jogou 4 jogos num Mundial sub-20 e 5 jogos num Europeu Sub-21, onde Portugal até foi finalista vencido. E que tem três épocas de Liga NOS, ainda que nunca tenha sido titular indiscutível do Marítimo. A que se juntam três anos de utilização regular na equipa B dos insulares na Segunda Liga, onde somou 75 jogos, mais 17 na equipa secundária do FC Porto, na mesma divisão.

Tudo somado, a comparação roça o absurdo e não é mais do que a continuação do estilo de comunicação do FC Porto ao longo dos últimos meses, infelizmente um péssimo exemplo de como se faz comunicação, em que se fala mais da casa do vizinho do que da própria casa.

Concorde-se ou não com a decisão, Sérgio Conceição é soberano e ninguém pode questionar a decisão e muitos menos os motivos da mesma. A única análise que pode ser feita é sobre se José Sá poderá manter o nível defensivo dos dragões semelhante ao que tem revelado desde a temporada transacta. A minha opinião é que não. Um guarda-redes é muito mais do que o último elemento de uma equipa e as suas características são decisivas para a forma como a equipa joga.

Aí sim um bom exemplo é olhar para o rival da Luz. Com Svilar já se percebeu que a defesa pode voltar a jogar subida, dando menos espaço entre linhas, com os sectores mais próximos e coesos. O inverso do que se verificou com Varela e Júlio César, ambos sem capacidade para serem o líbero da defesa, protegendo a profundidade nas costas da linha defensiva dos encarnados.

José Sá e Casillas até podem não ser tão diferentes a este nível, mas o capital de confiança da defesa no internacional espanhol é muito diferente do internacional sub-21 luso. Isso foi gritante em Leipzig, com a defesa a cometer erros que não são habituais nos azuis e brancos. E certamente o erro inicial de Sá que originou o golo dos alemães não aumentou esse fraco capital de confiança no guarda-redes curiosamente formado na Luz.

Se a opção é para contunuar ou não, saberemos dentro de poucas horas quando sair a constituição do onze do FCP frente ao Paços de Ferreira, mas seria mais difícil ainda de entender se voltasse a apostar em Casillas.

sexta-feira, outubro 20, 2017

O leão que perdeu o apetite


Ao longo das últimas semanas, a crise, ou fase menos boa como lhe chama Rui Vitória, do Benfica tem enchido títulos e manchetes de jornais, ocupado horas nas TV's e rádios e tem sido um fantástico escape para a menor atenção que é dada ao rival da Segunda Circular.

Mas a verdade é que os leões parecem mergulhados numa crise de apetite de golos ao longo do último mês. Em cinco dos últimos cinco jogos, ficaram em branco em três (Marítimo para a Taça CTT, Barcelona na Champions e Porto na Liga NOS) e noutras duas ocasiões apenas chegaram ao golo graças a autogolos (Moreirense na Liga NOS e Juventus na Champions). O outro jogo foi com o Oleiros para a Taça de Portugal, que obviamente não deve ser levado em linha de conta dada a fragilidade competitiva do rival e pelo facto do Sporting nem ter apresentado o seu onze base.

O motivo mais claro para perceber esta falta de produção ofensiva dos de Alvalade prende-se com a pouca capacidade goleadora de Bas Dost face ao que apresentou na temporada anterior. O avançado holandês tem quatro golos na Liga NOS, mas dois são de penalty. Apenas em Guimarães bisou sem nenhum dos golos a surgir da transformação de uma grande penalidade. E a estes golos soma apenas mais um em Bucaresta no playoff da Champions. Muito pouco para quem lutou pela Bota de Ouro até ao último segundo com Messi em 2016/017.

A questão que fica é se se trata de um período de menor fulgor do avançado holandês ou se o jogador está a ser vítima do novo sistema. Aposta mais na segunda. Várias vezes aqui escrevi que a saída de João Mário desequilibrou a equipa gravemente no ano passado. Gelson Martins substituiu o médio do Inter dando outro rasgo ofensivo e capacidade de desequilibrar na frente, através da técnica e da velocidade, mas deixou os leões desequilibrados defensivamente, deixando de ter um terceiro médio a fazer movimento interiores, o que condenou Bryan Ruiz ao desterro a que se encontra envolvido atualmente.

Por isso, Jesus teve como principal preocupação este ano recuperar a eficácia defensiva que lhe custou a ambição de lutar por mais há um ano. Mas essa eficácia não só está consolidada, como se pode ver pelos golos que sofreu de rajada em alguns jogos, como em Santa Maria da Feira ou em Atenas, como surge não só à custa da introdução de novos elementos no quarteto defensivo, mas também à alteração do meio-campo.

Acuña veio fazer o que João Mário fazia em termos de equilíbrios, no flanco contrário, mas a saída de Adrien encurtou a equipa no corredor central. Mais ainda quando o treinador dos verde-brancos começou a apostar em William para 8 e Battaglia para 6. Ambos são muito curtos em termos de condução e transporte, assim como na capacidade de passe. A isto junta-se Bruno Fernandes, um jogador muito distinto de Teo Gutierrez, Bryan Ruiz ou Alan Ruiz. O médio português é mais um 10 que um 9,5 como Jesus gosta de chamar a quem joga junto do seu ponta-de-lança. Esse facto entrega também mais à marcação Bas Dost, com menos jogadores a surgirem na área para abrir espaços para o gigante do país das túlipas.

Ora a menor eficácia dos leões coincide também com o desaparecimento da lista de marcadores de Bruno Fernandes. O jogador que chegou de Itália foi um verdadeiro bombardeiro ao longo de várias jornadas, inscrevendo quase sempre o seu nome na lista de marcadores de cada partida. Algumas delas que até abriram com um golo seu para tornar jogos teoricamente difíceis em menos complicados, como a deslocação à Cidade-Berço.

O Sporting revela muitas dificuldades no jogo interior no último terço e obviamente que nem sempre iria surgir a bomba de Bruno Fernandes para resolver. Os jogos em casa dos leões para a Liga NOS e mesmo no Playoff da Champions são o melhor exemplo dessas dificuldades. Jogos com poucos golos, onde o Sporting foi incapaz até à data de marcar mais do que dois golos num jogo no Estádio José de Alvalade. Em sete partidas no covil do leão para as várias competições, o pecúlio é confrangedor. Apenas cinco golos marcados e esta soma refere-se apenas a três jogos (1 golo ao Setúbal, 2 ao Estoril e 2 ao Tondela) com quatro jogos em branco (Steaua, Marítimo, Barcelona e Porto)! É certo que os jogos com os catalães e os dragões são de elevadíssimo grau de dificuldade, mas são nulos ofensivos a mais para uma equipa com as ambições do Sporting.

Na minha opinião, para mudar esta fase menos concretizadora, a única hipótese será recuar Bruno Fernandes para 8, tirar Battaglia, e colocar alguém mais próxima de Bas Dost, seja Podence, Gelson Dala ou Iuri Medeiros. Curiosamente, a melhor opção até parece ser Bryan Ruiz, mas o costa-riquenho não parece ter hipótese de deixar o ostracismo a que foi vetado.

Os números não mentem, e não fossem dois penalties (bem assinalados diga-se) salvadores nos descontos com Setúbal e Feirense, e apesar da enorme crise exibicional que o tetracampeão tem vindo a apresentar, o rival da 2ª Circular poderia estar atrás dos encarnados, sem que se leia uma linha de qualquer especialista sobre esta outra crise de um grande de Lisboa... Seguem-se quatro jogos de enorme grau de exigência (Chaves, Juventus e Braga em Alvalade e Rio Ave fora, entre Chaves e Juventus), onde os leões terão de dar uma resposta cabal a este momento pouco convicente, sob pena de hipotecarem uma temporada onde, mais do que ninguém têm obrigação de ser campeões dado o elevadíssimo investimento em contratações e salarial, muito superior aos dos rivais que lutam pelo título.

segunda-feira, setembro 25, 2017

O maravilhoso mundo de Fejsa


Uns têm Messi. Outros têm Cristiano Ronaldo. Ainda há quem tenha Neymar. Ou Dybala. Ou Lewadowski. Na Luz, há Fejsa. Pode parecer estranho comparar o trinco sérvio a estes craques mundiais? Talvez! Mas só se o leitor for desatento. Pois a preponderância deste jogador na equipa tetracampeã nacional não é menor que a dos astros elencado em cima. Sem Fejsa, o Benfica é um. Com Fejsa é outro.

A foto usada para ilustrar é antiga, do ano da chegada do médio, proveniente do Olympiakos, à Luz, em 2013. Mas é perfeita para o que aqui destacamos. O Benfica atual (entenda-se, a equipa de futebol) é Fejsa. E mais 10. Não é Jonas, o homem dos golos, nem Pizzi, o estratega da equipa, nem Luisão, o patrão da defesa.

Ao longo das últimas semanas, o médio sérvio esteve de baixa. Falhou vários jogos, o que coincidiu com um período negativo dos encarnados. Um empate para a Liga, uma derrota na Champions, seguida de outra para a Liga, e um empate para a Taça CTT. Pelo meio, vitória com péssima exibição frente ao Portimenense, também para a Liga NOS. Sem o sérvio, nada parece funcionar. Pizzi e Jonas baixam o seu nível de jogo de forma gritante. A equipa não consegue construir pois o médio internacional português vê-se obrigado a tarefas que normalmente não são suas e toda a manobra ofensiva das águias fica comprometida. E defensivamente, num ano em que houve várias vendas não supridas de forma direta no mercado de transferências, também se torna óbvia a ausência do trinco dos encarnados, onde um meio-campo permissivo expõe a defesa a situações de desequilíbrio.

Fejsa regressou há competição um mês depois frente ao Paços de Ferreira no passado sábado. E de repente, toda a equipa se iluminou. Pizzi fez o melhor jogo do último mês (mesmo não estando no seu melhor momento de forma). Jonas voltou a ter maior capacidade de desequilibrar na frente. Apesar de também não estar no pico. Até André Almeida se viu bem mais solto ofensivamente do que nos últimos jogos.

Diz a estatística que Fejsa recupera em média 2,3 bolas por jogo (só no sábado foram quatro recuperações, algumas em terrenos bem adiantados). Danilo, do FCP, apenas apresenta uma média de 1,3, enquanto William Carvalho, do rival Sporting, 0,5! A diferença é óbvia entre os três trincos dos candidatos ao título.

Para os que seguem menos os jogos do Benfica, a melhor forma de perceber esta preponderância é ver os números do jogador e do Benfica com ele em campo nestas cinco épocas na Luz, onde foi campeão todos os anos (chegou no ano do arranque da série do Tetra), depois de já o ter sido nos seis anos anteriores (3 pelo Olympiakos da Grécia e 3 pelo Partizan de Belgrado da Sérvia).

Ora, no primeiro ano, com Fejsa como titular, em 15 jogos, zero derrotas e apenas três empates. No ano seguinte, em 2014/2015, devido a lesão gravíssima, apenas somou seis presenças na Liga NOS, e apenas uma a titular, curiosamente no jogo do título. Porém, com a chegada de Rui Vitória e um menor número de lesões graves, o sérvio assumiu em definitivo o papel de estrela maior desta equipa. Em 2015/2016, dos 19 jogos em que participou na Liga NOS, foi titular em 15, apenas empatando um. Já no ano passado, foi titular em 25 das 34 jornadas, e somou as duas primeiras derrotas como titular na Luz. Ao fim de quatro épocas e num total de quase 60 jogos! Apenas duas derrotas.

É caso para dizer que os números falam por si. A sua leitura de jogo, a capacidade tática ao nível de um predestinado, fazem de Feja um jogador único. Não fossem as lesões e há muito que não estaria na Liga portuguesa com toda a certeza. A sua propensão para estar lesionado limitou-lhe a carreira. Caso contrário estaríamos a falar de um jogador de um das equipas de top mundial.

Afirmar que um jogador com as suas características é o melhor de uma Liga é arriscado. Talvez polémico. Pois decisivo costumar ser quem marca golos. Quem desequilibra no último terço do terreno. Mas na minha opinião Fejsa é de longe o melhor jogador da Liga NOS. Não o mais brilhante. Não o que mais dá nas vistas. Mas sei dúvida o mais importante. Nenhum jogador é tão decisivo na manobra de uma equipa da Liga portuguesa. Porque Fejsa não só joga muito, como coloca toda uma equipa a jogar a um nível muito superior.

terça-feira, setembro 12, 2017

Um playoff antecipado


Pode parecer uma provocação, mas não é mais do que uma constatação da realidade. O jogo de hoje entre os gregos do Olympiakos e o Sporting acaba por ser quase a primeira mão do playoff de acesso da Liga Europa. Olhando para o grupo dos leões, parece utópico pensar em mais do que o terceiro lugar do grupo. Um empate que seja contra o Barça ou Juventus é quase uma vitória para o Sporting ou para os gregos.

Como tal, o Sporting tem hoje a primeira de uma final que será terrível. Acima de tudo pelo ambiente que irá enfrentar. Jogar na Grécia, como na Turquia, seja em que estádio for, é muito complexo pois o caldeirão que fervilha nas bancadas intimida o mais arrojado dos homens.

Jorge Jesus apostou forte o ano passado e deu uma réplica interessante frente a Real Madrid e Dortmund, mas em especial no caso dos espanhóis, a sua sobranceria ia custando caro. É difícil acreditar que Juventus e Barcelona repitam a gracinha sob pena de saírem penalizados. Como tal, o jogo de hoje tem de ser encarado com o mais importante. Sair de Atenas com pontos será meio caminho andado para assegurar a Liga Europa e aí, apesar de nomes como Milan ou Arsenal, os rivais são na sua maioria mais acessíveis. E Jesus sabe bem o que é chegar à final dessa competição.

Resistir a uma pressão inicial forte que se adivinha e conseguir anular Fortounis, o craque dos gregos, serão as chaves do sucesso na Grécia. Uma derrota não deita nada a perder, mas reduz a margem de erro dos leões e obriga a vencer em casa os gregos por vantagem superior, isto se nenhuma das equipas conseguir o tal milagroso ponto num dos embates com os favoritos.

A minha grande dúvida é, confirmando-se a dupla William-Bruno Fernandes como duplo pivot do meio-campo, se conseguirão suster o meio-campo contrário num jogo com este nível de dificuldade. A esse tema voltarei em breve mas em relação ao jogo de hoje, seria mais avisado do técnico dos de Alvalade juntar Battaglia a William Carvalho, deixando Bruno solto para o que melhor sabe fazer: comandar o jogo ofensivo sem enorme desgaste defensivo.

sábado, setembro 09, 2017

Contabilidade criativa




Aos adeptos de futebol pouco ou nada interessam as contas. Interessa se ganham, se perdem, se jogam bem ou mal. A maioria é leiga em matéria económica e nem sequer tem qualquer interesse nisso. Desde que a bola entre, tudo vai bem. Se não entra, as contas continuam a ser a última coisa para a qual olham. O problema maior é que sem contas bem geridas, a bola deixa de entrar, a equipa deixa de jogar, e corre riscos maiores...

Vem esta introdução a propósito da apresentação de contas da SAD do Sporting Clube de Portugal. E merece uma segunda introdução, a ignorância dos jornalistas desportivos em ler os resultados que lhes são apresentados, e incapacidade em fazerem as questões que realmente importam, ao invés de tomarem como bons os destaque que o clube lhe apresenta. Isto é válido para o Sporting, como qualquer outro clube. Até jornalistas económicos chegam a ignorar os pontos negativos de um R&C se forem bem mascarados por uma qualquer empresa de topo de qualquer sector da indústria portuguesa... e falo por experiência própria.

Bom, foi esta quinta-feira que Bruno de Carvalho e a sua direção apresentaram aos jornalistas os números do último exercício, algo que costuma só acontecer no início de outubro. E o maior elogio que pode ser feito a estas contas é que quem as apresentou tem uma capacidade na área da cosmética acima da média. Essencialmente porque quem recebe a informação não percebe nada do que está a ouvir nem a grande maioria de quem lê as notícias que são produzidas por estes.

Destacou Bruno de Carvalho que as vendas foram as melhores de sempre (o que é verdade mas omitindo que cerca de 30% do seu valor total não entrou nos cofres do clube, o que contrasta com a sua afirmação de que não aceita intermediários nem paga comissões), que as receitas de TV dobraram (esquecendo-se de referir que antecipou 30 milhões de um contrato que nem sequer entrou em vigor, hipotecando já 60 milhões do contrato celebrado há um ano, o chamado Factoring). E a obra de arte acaba por ser contabilizar receitas da participação na Champions que foram todas penhoradas pois dizem respeito à dívida à Doyen (17M€) pelo que o dinheiro em causa nunca entrará nas contas do clube ou deviam aparecer noutra rubrica que não a das receitas.

A esta contabilidade criativa, pasme-se, considera o líder do clube que inverteram a tendência do seu antecessor, de má gestão, quando o passivo do Sporting aumentou mais de 60 milhões num ano só! Foi assim também com o FC Porto no último ano e viu-se onde terminou essa gestão com a intervenção da UEFA. E desde que Bruno de Carvalho está à frente dos destinos do clube já aumentou o passivo em 100 milhões.

Os resultados anuais, sem transferências, dão um prejuízo de 17 milhões, muito graças a um aumento exponencial dos custos com salários (15M€), bem demonstrativo do forte investimento no plantel, que supera já os 60M€ com custos salariais. E no próximo ano estarão nestas contas Coentrão, Matthieu e Doumbia, que juntos superam os 10M€/ano de massa salarial o que atirará estes custos para valores superiores aos 75M€.

Este investimento também é visível nas aquisições para a presente época, com Bruno Fernandes, Doumbia, Battaglia, Mattheus Oliveira e Piccini a ultrapassarem os 40 milhões gastos, a que se junta Acuña que fará disparar este valor para cima dos 50 milhões!

O resultado final é positivo, 30 milhões de euros, mas se descontarmos o valor das receitas da UEFA, esse valor reduz-se para 12 e contando que 30 são provenientes de receitas de TV de anos futuros, o que fará com que daqui a uns anos já não haja receitas para antecipar, o cenário deve ser preocupante para os adeptos dos leões que certamente não quererão passar por outro risco de falência como há uns anos. A dívida foi negociada e transformada em VMOC's mas daqui a 9 anos terão de ser adquiridas ou o clube perderá a posição maioritária. Ora coincidindo isso com a altura em que as receitas de TV já foram todas antecipadas (se mantiverem este ritmo), a questão será qual o futuro dos leões. Ou os sócios deixam de ter maioria ou o final pode ser negro...

P.S.: De referir que esta criatividade não surpreende quando o clube anuncia a venda de Adrien por valores que podem atingir os 29,5M€ mas só 20 são garantidos, 5 são por objetivos e 4,5 referem-se ao facto do jogador ter abdicado de verbas a receber com uma eventual venda. Ou seja, deixou de haver um hipotético custo... mas esse dinheiro jamais é lucro ou receita pois nunca entrará nos cofres.

sexta-feira, setembro 08, 2017

A manta curta do dragão de Sérgio Conceição


É inquestionável a pujança do FC Porto neste arranque de temporada. Mérito para Sérgio Conceição que com as mesmas peças de Nuno Espírito Santo e recuperando alguns proscritos do ex-treinador, que regressaram de empréstimo. Um estilo de jogo muito agressivo, com pressão alta e recuperação da bola em terrenos adiantados, para causar maiores desequilíbrios com o adversário descompensado. Falta apenas melhorar a eficácia que ainda é baixa para o número de oportunidades criadas, como as duas vitórias fora por 1-0 demonstram, onde podiam os dragões ter vencido de forma confortável.

À luz destas exibições e dos resultados obtidos, é natural que para muitos analistas os azuis e brancos surjam como favoritos, dado terem um onze forte, com uma tremenda estrutura defensiva, onde assenta o sucesso das equipas campeãs. E um ataque pujante, com dois (de três contando com Marega) avançados fixos com grande capacidade física o que desgasta e muito as defesas contrárias.

Tudo são ingredientes para a receita de sucesso que os da invicta tanto desejam, o título de campeão que foge há já quatro temporadas. Porém há uma questão que parece esquecida à maior parte dos analistas e que poderá ser decisiva: o muito limitado plantel do FCP.

Apenas nas laterais defensivas há quatro opções de muito valor, onde baixas por lesão não deverão fazer grande mossa. Contudo, no centro da defesa há apenas a dupla Felipe/Marcano e o mexicano Reyes como alternativa, sendo que este último surge agora como opção para o posto de trinco, onde há outra lacuna, pois Danilo não tem um suplente com características semelhantes. A alternativa é André André, mas o médio não é um trinco de raiz.

Nas alas, há Brahimi e Corona, mas depois apenas Hernâni é um ala, com Otávio a aparecer como alternativa apesar de ser um 10. E no ataque, Soares e Aboubakar apenas têm Marega como opção o que é muito curto num sistema de dois avançados.

Em suma, e no momento em que começa a apertar o calendário, com o arranque da Liga dos Campeões, Sérgio Conceição estará certamente a pedir a todos os deuses que não haja lesões nestas posições pois a perda de 2 ou 3 peças-chave podem ser fatais nas suas ambições. Mais do que os rivais, a luta do FCP será mesmo com a capacidade de manter o curto plantel saudável. E mesmo sem lesões, será hercúlea a tarefa de Conceição em conseguir gerir tanta competição com tão poucos jogadores sem que haja quebras de rendimento, com a agravante do estilo de jogo asfixiante ser extremamente desgastante para a equipa.

O favoritismo dos dragões poderá ser medido em Novembro ou Dezembro. Até lá, é tempo de ver a resposta do Porto a estes desafios.

terça-feira, setembro 05, 2017

O leão que sofre de soluços quando está em casa



A paragem da Liga NOS para os jogos de apuramento para o Mundial 2018 marca a primeira pausa do campeonato português. Que coincidiu com o primeiro dos grandes a escorregar. Esse tem sido o tema de maior destaque nas análises feitas às primeiras quatro jornadas da Liga. Até porque para muitos o tetracampeão Benfica não supriu as perdas que teve na defesa e aparenta estar mais frágil que os dois rivais.

A classificação para já demonstra-o, mas analisando a dificuldade do calendários dos três crónicos candidatos ao título, e o nível exibicional, a conclusão até pode ser outra.

A procissão vai no adro e os dois pontos de atraso do Benfica face a Porto e Sporting pouco ou nada significam para já. Nos cinco primeiros jogos da época dos encarnados, apenas a receção ao Belenenses aparentava menor grau de dificuldade, o que veio a ser confirmado pela goleada infligida pelos homens da Luz aos azuis do Restelo. Porém, nas restantes partidas, a exigência foi máxima ou perto disso. Começou com a final da Supertaça frente ao Vitória de Guimarães, que jogou a um nível superior do que tem evidenciado na Liga, onde os encarnados se impuseram e conquistaram o troféu.

Seguiu-se a receção aos outros minhotos, do Sp.Braga, a melhor equipa da Liga NOS para além dos três grandes (pelo menos olhando para o seu plantel), e nova vitória e exibição de qualidade. Depois a primeira deslocação complicada, ao terreno do Chaves, com a vitória a chegar nos descontos, mas a pecar por tardia, naquela que para mim foi de longe a melhor prestação do Benfica na temporada até ao momento. E após a já referida goleada ao Belenenses, o empate em Vila do Conde, contra o único dos não grandes que se mantinha na frente. Uma primeira parte muito fraca, e uma segunda melhor mas insuficiente para garantir os três pontos. Em suma, um arranque nada fácil, mas exibições bem conseguidas e a mostrar o porquê do Benfica ser campeão. A perda de pontos não choca tendo em conta o campo em que aconteceu.

Já o Porto, teve um início avassalador. Exibições convincentes, até categóricas a espaços, e 100% vitorioso. Contudo, o calendário era bem mais acessível. Duas vitórias contra equipas menores em casa, Estoril e Moreirense, e duas vitórias fora, uma frente a um frágil Tondela, e outra bem difícil, em Braga, num jogo em que o Porto poderia ter vencido por outros números. O Braga tem um excelente plantel, mas mostrou algum desgaste dos vários jogos que já soma neste arranque, com duas eliminatórias da Liga Europa pelo meio. Claro que isso não tira mérito aos dragões nem belisca este arranque de grande qualidade.

Por fim, o Sporting, que tal como os azuis e brancos se mantém com aproveitamento máximo na Liga NOS. Ao contrário dos seus rivais, é aquele que menos tem convencido em termos exibicionais, talvez por ser o que mais alterações tem no seu onze base face à época anterior. O arranque nas Aves valeu mais pelo resultado que pela qualidade do seu jogo e uma semana depois, em casa, frente ao Vitória sadino, um verdadeiro Ai Jesus, com o domínio absoluto da partida e não resultar em grandes chances e a vitória a surgir apenas de penalty à beira do minuto 90.

Na semana seguinte, um golão madrugador de Bruno Fernandes lançou os leões para a melhor exibição da temporada, em Guimarães, mas é preciso ressalvar o início sofrível da equipa de Pedro Martins, que soma uma só vitória na Liga NOS, com a sua defesa num nível confrangedor.

O regresso a casa frente ao Estoril também esteve longe de entusiasmar. Os primeiros minutos pareciam conduzir a nova goleada, com 2-0 no marcador, mas um golo nos minutos finais a reduzir para a vantagem mínima o placard quase levou o leão a um colapso, com um golo do Estoril nos descontos a levar à ira os adeptos e Jorge Jesus, até que o vídeoarbítro repôs a verdade anulando o golo dos canarinhos obtido em posição de fora-de-jogo.

Pelo meio, o playoff de acesso à Champions, com mais uma paupérrima exibição em casa, no nulo contra o Steaua, e depois uma vitória por goleada em Bucareste, mas que disfarçou momentos de tremores dos leões, depois de permitirem a igualdade perante uma formação romena que, seja dita a verdade, teria dificuldades em ficar na primeira metade da tabela da Liga NOS.

Os resultados e as vitórias são o bálsamo de qualquer equipa. Mas as exibições dos de Alvalade deixam a questão. Será que as muitas alterações no onze explicam um arranque periclitante em termos exibicionais? Ou poderão ser o prelúdio do que se viu há um ano, em que o Sporting tinha sempre muitas dificuldades contra equipas que assumem uma toada claramente defensiva no Estádio José de Alvalade?

O plantel é mais rico do que há um ano, com mais opções, mas a saída de Adrien é difícil de suprir, pois ninguém no plantel tem as mesmas características e menos ainda a preponderância no balneário. Ora numa equipa com dificuldades em termos de equilíbrio como mostrou na época transacta, como será sem o fiel da balança da equipa? Mas isso será alvo de outra análise em breve neste blog.

Para já a certeza de que o arranque esteve muito longe de ser brilhante e só mesmo os resultados disfarçam essa realidade. Com um grupo temível na Champions e um calendário um pouco mais exigente intramuros, com a receção ao Porto como ponto alto de dificuldade nestas primeiras jornadas, até dezembro estou certo que se perceberá se este será o Sporting de há dois anos ou o da época passada. Um é o dia e o outro a noite. Duvido que o deste ano seja um meio termo entre os dois.

sexta-feira, agosto 25, 2017

Sortes e ambições diferentes para os grande lusos na liga milionária


Os sorteios valem, muitas vezes, uma coisa no papel e outra na prática. Ainda para mais quando ainda estamos a cerca de uma semana do fecho do mercado, que poderá ainda ditar várias alterações nos plantéis dos participantes na Liga dos Campeões. Contudo, olhando para a sorte que ontem foi ditada no Mónaco, fazemos uma primeira análise ao que se poderá esperar das equipas lusas.

No Grupo A, o tetracampeão nacional Benfica tem, teoricamente, a tarefa mais acessível dos três. Era a única equipa portuguesa no Pote 1, e acabou por beneficiar desse facto. Se no pote 2 pouco havia por onde escolher, calhando-lhe em sorte o Manchester United de José Mourinho, no restantes a felicidade foi maior, com Basileia e CSKA de Moscovo. A equipa de Rui Vitória tem legítimas ambições de seguir em frente, ainda que o favoritismo seja total para os ingleses, com um elenco reforçado e em excelente forma, liderando já a Premier League, ainda que só com duas jornadas disputadas.

Os suíços são uma equipa experiente na Europa e que domina há vários anos o futebol helvético. O arranque de temporada nem foi especialmente famoso, com uma derrota e um empate em quatro jornadas, que lhe valem o terceiro lugar a um ponto do líder Zurique. Já os russos, também com larga experiência de Champions, ultrapassaram os congéneres suíços do Basileia, o Young Boys, nos playoffs, mas o seu início de temporada na Liga Russa tem sido modesto, com duas derrotas e um empate em sete jogos, estando no quarto posto a já seis do líder Zenit.

Os encarnados começam e acabam em casa, precisamente contra as duas equipas que poderão ser mais acessíveis, o que é sem dúvida uma vantagem. À segunda jornada irão a Basileia, onde terão forte falange de apoio dos emigrantes lusos, jogando a jornada dupla com o United, primeiro em casa e depois fora. Uma vitória na estreia contra CSKA e pelo menos um empate em terra helvéticas, onde Seferovic jogará em casa, podem deixar os encarnados confortáveis para a jornada dupla com o United.

É complicado fazer previsões, mas o Benfica parte como claro favorito para assumir o segundo lugar e chegar aos oitavos-de-final da Champions. Com a vantagem de poder decidir esse apuramento em casa na última jornada, contra o Basileia, enquanto o o CSKA irá a Old Trafford a fechar.

No grupo D, o Sporting terá a tarefa mais difícil dos três. No futebol não há impossíveis, mas aquilo que espera os leões está muito próximo disso. Com Juventus e Barcelona no grupo, aos homens de Alvalade restará pouco mais que lutar com os gregos do Olympiacos pelo acesso à Liga Europa, um pouco à imagem do que se passou no ano passado, quando Real Madrid e Dortmund também foram adversários inacessíveis aos leões, apesar da boa réplica deixada em campo, que contudo redundou em quatro derrotas nessas partidas, acabando por perder o terceiro lugar para o Légia de Varsóvia na última ronda da fase de grupos.

Os verde e brancos começam a competição na Grécia, num jogo que poderá ser, desde logo, determinante nesse objetivo. Qualquer resultado que não a derrota deixará os homens de Jesus bem posicionados, assim como qualquer ponto extra que possa ser somado contra os dois gigantes. Outra vantagem para os leões poderá ser a última jornada em Camp Nou onde os catalães poderão ter já o apuramento garantido, utilizando uma equipa alternativa que possa dar mais possibilidades ao Sporting, um pouco à imagem do que aconteceu com o Benfica há uns anos, que foi na última jornada a Barcelona, que se apresentou com uma equipa quase C, sem que tenha, ainda assim, alcançado a vitória que lhe daria o apuramento.

Por fim, no Grupo G, o FC Porto teve um sorteio agridoce, pois não teve nenhum tubarão, como os rivais de Lisboa, mas também não tem qualquer adversário menos cotado (se bem que os rivais também não o têm, mas os dos dragões são mais equilibrados e exigentes, especialmente que os do Benfica). O Mónaco é o favorito, mas com algumas perdas do onze que encantou a Europa no ano anterior, os franceses parecem menos fortes, ainda que tenham tido um arranque muito forte, continuando o sucesso que lhes valeu o título da Liga Francesa. Falcao regressará ao Dragão, assim como João Moutinho, numa equipa que continua poderosa e cuja grande interrogação será se a jovem estrela Mbappé continuará no principado, o que fará inevitavelmente diferença.

Os restantes adversários são os turcos do Besiktas, bicampeão do seu país, e que o ano passado lutou até final com o Benfica pelo apuramento pelos oitavos, onde Quaresma pontifica e que também regressará ao Dragão, e os alemães do Leipzig, a surpresa da Bundesliga em 2016/2017, que se estreia na alta roda do futebol europeu.

Os turcos contam com vários reforços de relevo, como o português Pepe, outro regresso à Invicta, o chileno Medel, o espanhol Negredo ou o holandês Lens. A juntar a uma equipa que já era bastante forte, certamente será um rival muito complicado para os dragões. Já o Leipzig, terá como contra a inexperiência europeia, um factor que costuma ser decisivo na Champions, mas está recheada de jovens valores, como o recém-chegado português Bruma, que se junta a um ataque poderoso com dois jovens promissores, Poulsen e Werner, e ao médio Keita, que levou quase até à loucura o Liverpool pela sua contratação, mas sem sucesso.

O primeiro jogo, em casa, contra o Besiktas, num grupo tão equilibrado, assumirá um carácter fulcral para as ambições dos azuis e brancos. Uma vitória poderá lançar a equipa de Sérgio Conceição, mas um empate ou derrota pode fazer cair por terra, logo no arranque, as ambições na liga dos milhões. Até porque depois seguem-se deslocações consecutivas ao Mónaco e Leipzig, com elevadíssimo grau de dificuldade. A última jornada contra os monegascos, no Dragão, poderá ser mais fácil caso os comandados de Leonardo Jardim já tenham apuramento assegurado, tal como aconteceu com o Leicester há um ano, que foi com as reservas ao Dragão na sexta jornada, o que permitiu ao Porto golear e carimbar a passagem aos oitavos.

Foi assim um sorteio para todos os gostos, com mais facilidades e dificuldades, na teoria, para cada um dos três grandes nacionais. Benfica parte na frente como o mais provável candidato a estar nos oitavos, com o Porto logo atrás num grupo que será uma verdadeira incógnita tal o equilíbrio. O Sporting vai tentar fazer da utopia um sonho real. Ou no limite, assegurar a continuidade nas competições da UEFA via Liga Europa.

Uma palavra final para os restantes grupos. No B, PSG e Bayern não deverão dar hipóteses a Celtic e Anderlecht, com acessa luta pelo primeiro lugar entre os dois tubarões. No C, Chelsea e Atlético de Madrid partem como favoritos, com Roma à espreita, à procura da surpresa. Os estreantes azeris do Qarabag deverão ser um verdadeiro saco de pancada perante tantos adversários poderosos. No grupo E, o Liverpool e Sevilha são claros favoritos, perante Spartak e Maribor, com poucos argumentos para este nível. O mesmo se pode dizer do grupo F, onde Nápoles e Manchester City deverão passar à fase seguinte, ainda que Paulo Fonseca e o seu Shaktar possa tentar a improvável surpresa de se intrometer nesta luta, ao contrário dos holandeses do Feyenoord que parecem os menos cotados dos quatro. Por fim, no grupo H, os bicampeões europeus Real Madrid enfrentam pelo segundo ano consecutivo os alemães do Dortmund, que até venceram o grupo há um ano, mas terão também no Tottenham um rival de peso, ainda que pareça um patamar atrás de espanhóis e alemães. O Apoel, do Chipre, irá fazer pouco mais que cumprir calendário perante uma concorrência de outra galáxia.

Falta pouco mais de duas semanas para a mais emocionante competição de clubes arrancar. O céu é o limite numa viagem repleta de milhões e emoções para os 32 clubes em prova.

terça-feira, agosto 08, 2017

É caso para ir à bruxa?


Ao longo das últimas semanas muito se falou de bruxos. Como se costuma dizer, não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay. Não faz parte deste espaço falar de bruxas, bruxos, bruxedos e maus olhados. Aqui falamos de futebol, mas efetivamente a malapata da enfermaria da Luz começa a atingir níveis surreais.

Depois de uma temporada em que, apesar do tetra, Rui Vitória teve de gerir mais de 40 lesões no seu plantel, com muitos poucos a passarem incólumes, ao invés de outros que somaram 2, 3 ou mais lesões diferentes, a tendência parece não querer mudar. À primeira convocatória para a Liga NOS 2017/2018, o treinador dos encarnados tem já seis indisponíveis, a que se pode juntar um sétimo, o croata Krovinovic, que está na fase final da recuperação de uma cirurgia. É quase um quarto do plantel atual!

É uma área sobre a qual é difícil tirar grandes conclusões, até porque muitas das lesões são traumáticas e difíceis de evitar. Porém, olhando para a realidade do Benfica face aos seus dois principais rivais, mais uma vez o número de lesões é infinitamente superior. Porto e Sporting têm praticamente todos os seus jogadores aptos para a primeira jornada (no caso dos leões tiveram, dado que já jogou o seu primeiro jogo) ao contrário das águias com todas as baixas já referidas.

Tendência crónica de muitos jogadores para as lesões? Poderá ser. Júlio César está constantemente de baixa, Zivkovic repete a segunda pré-época limitado e quase sem utilização, Horta continua a somar lesões em catadupa, Grimaldo não ultrapassa os recorrentes problemas musculares, isto só para citar alguns dos atuais lesionados. A estes podemos juntar Fejsa, que parece por vezes feito de cristal, Salvio, com tendência para lesões gravíssimas, ou até Jardel ou Jonas, que têm sofrido na última época, talvez fruto da idade continuar a avançar, problemas físicos bastante frequentes.

Ainda que a equipa apresente lacunas que precisam de ser respondidas até 31 de agosto, começa a parecer que, mais uma vez, a grande preocupação de Rui Vitória será a saúde dos seus jogadores. Não será certamente fácil para um treinador passar todas as semanas sem saber com que jogadores poderá contar nem em que condições estarão esses jogadores semana após semana, dado que, como na época passada, a questão ultrapassa muitas vezes o ter os jogadores aptos, pois as constantes paragens retiram a forma aos atletas prejudicando o seu rendimento mesmo quando aptos para jogarem.

O Benfica já fez algumas alterações no seu departamento médico mas as lesões continuam. Talvez o melhor seja mesmo ir à bruxa...

domingo, julho 23, 2017

Três caminhos para uma mesma meta - Sporting CP




Faltam 15 dias para o arranque da Liga NOS 2017/2018... e 6 semanas para o fim do mercado de Verão. Nesta fase são sempre muitas as expectativas para a nova época. Os adeptos entusiasmam-se com cada toque na bola que um novo reforço dá, com a manchete do jornal que promete mais um craque, mesmo que nunca tenham visto mais do que um vídeo do Youtube desse mesmo jogador, onde facilmente um qualquer Fredy Adu parece ser o novo Messi.

Fazer exercícios de adivinhação não é o meu forte, confesso. E muito menos me fio nas bruxarias que determinam campeões. Assim, à luz do que assistimos até agora, aqui fica uma análise ao caminho que os três grandes percorreram até agora visando o tão ambicionado título, que nenhum dos três quer deixar escapar. O objetivo é comum, mas o caminho para lá chegar, até agora, é totalmente oposto entre os três.

Fechamos com a análise ao Sporting que parece mais do que nunca apostado em conquistar o título.


O tudo por tudo pelo regresso à glória com a Champions como fantasma

O Sporting é a antítese dos seus rivais. Apostou forte neste mercado e já superou os 20 milhões de investimento no seu plantel. E nalguns casos o investimento foi zero ou próximo disso, como Matthieu que chegou livre e os emprestados Fábio Coentrão e Doumbia, mas a folha salarial irá crescer só nestes três elementos em mais de 10 milhões, o que aliado à obrigação dos azuis e brancos que já aqui descrevemos de baixar a sua massa salarial em vários milhões, fará dos leões o clube dos três grandes com maior investimento em salários. A menos que se assistam ainda a algumas vendas das suas principais figuras, mas já lá vamos.

Com a obrigatoriedade de estar mais próximo do seu melhor logo no arranque da época, devido ao playoff de acesso à fase de grupos da Champions, os leões são os que terão o plantel mais fechado. Pelos vários reforços. Pelo desenho mais claro do que será o seu plantel, onde já poucas peças faltam, um lateral direito para concorrer com Piccini que poderá já estar na porta de entrada de acordo com as últimas notícias, deverá ser o único elemento por chegar.

A grande questão será então se os leões ainda irão deixar sair as suas pérolas. E será precisamente o playoff da Champions que poderá responder a essa questão. Não sendo cabeça de série, como à partida acontecerá, os leões podem ter Nápoles, Liverpool e Sevilha pela frente e uma eliminação irá obrigar inevitavelmente a uma razia no plantel com William, Adrien e Gelson à cabeça para saírem.

Claro está que essas saídas poderão ser uma realidade independentemente do que acontecer na Champions. E até podem sê-lo antes da eliminatória decisiva de agosto. Adrien e William há muito desejam brilhar noutros campeonatos europeus e também auferir vencimentos superiores aos que têm em Alvalade.



Residirá nesta questão saber que leão teremos em 2017/2018. Com William, Adrien e Gelson no elenco, o Sporting apresenta uma equipa fortíssima para atacar o título. Porque acima de tudo ganha banco. Com Doumbia como uma excelente alternativa a Bas Dost. Com Bruno Fernandes como opção para o lugar de Adrien ou a assumir o posto de 10, levando a melhor sobre Alan Ruiz e Podence. Acuña deixou excelentes indicações na estreia, um extremo que é a antítese dos alas que Jesus tem treinado vindos do país das Pampas, ao contrário de Salvio, Di Maria ou Gaitan, não tem na sua criatividade e drible a sua maior valia, mas sim numa capacidade férrea de trabalho, um pulmão muito forte, aliados a um pé esquerdo capaz de causar desequilíbrios tanto nas bolas paradas como nos cruzamentos e último passe.

O maior problema da época passada foi a permeabilidade defensiva. Jesus pediu Piccini (e mais uma alternativa para concorrer com o italiano), Matthieu e Coentrão mas como escrevi várias vezes o ano passado, o problema maior da incapacidade defensiva dos leões é o seu meio-campo. A saída de João Mário desequilibrou a equipa em termos defensivos. Ganhou ofensivamente com Gelson Martins, mas perdeu muito defensivamente pois o agora médio do Inter fechava por dentro e ficava com um trio de luxo no meio. Gelson não o faz e nem defende com grande propriedade, o que prejudica muito o lateral que joga atrás de si, e limita a dupla do meio-campo. E fez baixar muito a produtividade de Bryan Ruiz, que se viu obrigado a tarefas que na época anterior não teve em termos defensivos, daí a péssima temporada realizada que o atira agora para a porta de saída.

Acuña poderá ajudar um pouco a combater este problema, mas pela primeira amostra com o Mónaco, também não terá grande tendência para movimentos interiores e se William e Adrien saírem, esse problema poderá ganhar proporções catastróficas para as ambições leoninas pois Bruno Fernandes não tem grande pulmão e capacidade defensiva, ao contrário de Adrien, e Battaglia está muito longe da qualidade de William Carvalho para ser um tampão do meio-campo. Como alternativas para 8 e 6 respectivamente, são um upgrade. Como titulares são um downgrade acentuado.

Resta também saber que Coentrão terá o Sporting, se o que encantou no Benfica, se o que passou a maioria do tempo na enfermaria em Madrid e no Mónaco nos últimos três anos. Isso também será certamente muito importante para o futuro dos leões.

Ao contrário dos rivais, a época dos verde e brancos poderá ser decidida logo em agosto. Um enorme peso para Jesus e Bruno de Carvalho. Mas que em caso de sucesso também poderá ser a mola para o regresso à glória que há tantos anos foge aos homens de Alvalade.

Três caminhos para uma mesma meta - FC Porto



Faltam 15 dias para o arranque da Liga NOS 2017/2018... e 6 semanas para o fim do mercado de Verão. Nesta fase são sempre muitas as expectativas para a nova época. Os adeptos entusiasmam-se com cada toque na bola que um novo reforço dá, com a manchete do jornal que promete mais um craque, mesmo que nunca tenham visto mais do que um vídeo do Youtube desse mesmo jogador, onde facilmente um qualquer Fredy Adu parece ser o novo Messi.

Fazer exercícios de adivinhação não é o meu forte, confesso. E muito menos me fio nas bruxarias que determinam campeões. Assim, à luz do que assistimos até agora, aqui fica uma análise ao caminho que os três grandes percorreram até agora visando o tão ambicionado título, que nenhum dos três quer deixar escapar. O objetivo é comum, mas o caminho para lá chegar, até agora, é totalmente oposto entre os três.

Debruçamo-nos agora sobre os dragões que procuram pôr fim a um ciclo de quatro anos sem títulos.


A aposta forçada na continuidade onde só muda o treinador

Parece contraditório, mas o FC Porto é dos três grandes aquele que menos muda no seu plantel e, provavelmente na sua forma de jogar (mas isso será para análises mais à frente pois é muito cedo para isso), mas foi o único que teve alteração no comando técnico. Sérgio Conceição veio substituir Nuno Espírito Santo e a mudança até tem lógica. Acossados pelo Fair-Play Financeiro da UEFA, os dragões estão em regime de Troika. Ora se não podem mudar quase nada no seu plantel, apostam na chicotada psicológica para tentar levar o barco ao tão desejado porto do título. Um hábito que se enraizou durante três décadas mas que parece ter precisado de muito menos tempo para desaparecer.

Se na análise anterior dissemos que o Benfica era o que mais estava disposto a vender e não via nisso um drama, os azuis e brancos estão menos agradados com a ideia de perder ativos, mas ao mesmo tempo têm essa realidade como uma inevitabilidade dadas as questões financeiras. E mais do que se tem falado da necessidade de vender, o grande drama do FCP é a questão salarial. Uma das obrigações definidas pela UEFA é que a massa salarial não poderá passar os 60 ou 70% (não foi publicamente revelada a % exacta) dos resultados líquidos (sem transferências). Ora se olharmos para o último Relatório & Contas (do 1º semestre de 2016/2017) e estimando o total do ano, atualmente ocupa cerca de 100% o que implicará uma redução de salários na ordem dos 20 a 30 milhões!! Por isso parece surpreendente a manutenção de Iker Casillas e, até ver, de Maxi Pereira, sendo que ambos somam quase 10 milhões por ano na folha salarial portista.

Por isso, a grande incógnita na formação do plantel é quem ainda sairá para que o Porto possa cumprir esta obrigação definida pela UEFA. Alguns jogadores ainda deverão assim sair do Dragão e se tal acontecer, que capacidade financeira terão os da Invicta para ir ao mercado?

Não fosse esta realidade, o mais certo era pouco ou nada mexer. A baliza está bem preenchida, a defesa viu chegar Ricardo Pereira (que é muito cobiçado e ainda poderá sair) e Rafa Soares, ambos vindos de empréstimo, para reforçarem as laterais. E no centro da defesa, a grande mais-valia da equipa na época passada, crescem as opções com Indi e Reyes, muito superiores a Boly.

O meio-campo perdeu Ruben Neves mas o jovem médio pouco foi opção e regressou Sérgio Oliveira. Ou seja, quase tudo na mesma, num sector onde o Porto tem boas opções e vive alicerçada naquele que é para mim a sua maior estrela, o médio Danilo.



O grande calcanhar de Aquiles será o ataque. Já o era no ano passado e a perda de André Silva não antevê melhorias. As opções nas alas são muito poucas e não convencem. Brahimi usa e abusa do individualismo, tornando-o num problema para a equipa, Corona parece manter a sua irregularidade, nunca se sabendo se vai aparecer nos jogos, e Hernâni e Marega não parecem com perfil para voos tão altos, mas deverão ter a oportunidade de contrariar esta opinião. No centro do ataque, Soares tentará pelo menos manter o nível de eficácia da meia época que cumpriu no Dragão e que foi decisiva para permitir a luta pelo título até final e ao seu lado estará o camaronês Aboubakar, numa dupla que promete um ataque demolidor em termos de força, tal a pujança de ambos.

Assim, à partida, os dragões até poderão ser aquele que estará mais estável no arranque dada a aposta na continuidade. Contudo, parecem ser os que menos opções de qualidade terão, em especial no ataque. Resta saber o que acontecerá até 31 de agosto. Em caso de alguma oferta irrecusável, dificilmente os dragões poderão dizer não, com Ricardo Pereira, Marcano, Felipe e Danilo à cabeça para poderem sair.

E há ainda outra questão que poderá ser decisiva para o desenho final do plantel. Marcano, Indi, Reyes e Aboubakar estão todos em final de contrato. Já se percebeu que pela questão salarial acima mencionada, os azuis e brancos são incapazes de garantir a renovação de qualquer deles pois só podem oferecer reduções salariais, ou no limite manter o que já ganham, o que obviamente nenhum dos quatro aceitará pois poderão fazer contratos financeiros muito interessantes já em janeiro como jogadores livres. Como encararão os jogadores a época sabendo que estão apenas a prazo no Dragão? E preferirão os Dragões comprometer ainda mais os seus problemas financeiros, preferindo usufruir um último ano destes jogadores ao invés de encaixar alguns milhões, mesmo que menos do que os jogadores valem pela situação contratual?

Três caminhos para uma mesma meta - SL Benfica



Faltam 15 dias para o arranque da Liga NOS 2017/2018... e 6 semanas para o fim do mercado de Verão. Nesta fase são sempre muitas as expectativas para a nova época. Os adeptos entusiasmam-se com cada toque na bola que um novo reforço dá, com a manchete do jornal que promete mais um craque, mesmo que nunca tenham visto mais do que um vídeo do Youtube desse mesmo jogador, onde facilmente um qualquer Fredy Adu parece ser o novo Messi.

Fazer exercícios de adivinhação não é o meu forte, confesso. E muito menos me fio nas bruxarias que determinam campeões. Assim, à luz do que assistimos até agora, aqui fica uma análise ao caminho que os três grandes percorreram até agora visando o tão ambicionado título, que nenhum dos três quer deixar escapar. O objetivo é comum, mas o caminho para lá chegar, até agora, é totalmente oposto entre os três.

Este primeiro texto analisa a realidade do tetracampeão nacional.


Porta giratória da Luz promete só parar a 31 de agosto

Comecemos então pelo tetracampeão nacional, que mais uma vez tem feito do defeso um momento de corrupio de entradas e saídas do Estádio da Luz. Seguindo uma estratégia que se repete há algumas temporadas, Luís Filipe Vieira procura em primeiro lugar fazer render os seus ativos. Entre janeiro e julho já lá vão mais de 150 milhões em vendas, fazendo do clube o que tem maior receita a nível mundial neste defeso.

As saídas de três elementos fundamentais da defesa encarnada, a juntar a várias falhas defensivas nesta pré-época, com especial enfoque a goleada imposta pelo Young Boys por 5-1, lançou o alerta entre adeptos. Mas como o Benfica tem feito, as saídas são preparadas com antecedência, ou com elementos provenientes do Seixal, que cada vez dá mais cartas e valores de relevo.

É certo que falta um Guarda-Redes, apesar de Júlio César continuar a ser uma mais-valia, mas os seus problemas físicos não deixam ninguém descansado e Bruno Varela parece ainda curto e a requerer mais tempo para evoluir (pessoalmente tenho dúvidas que alguma vez ultrapasse as lacunas que apresenta). No lado direito da defesa tudo estava pronto para Pedro Pereira assumir o lugar, depois de seis meses de maturação na Luz. Porém uma exibição desastrada na goleada frente aos suíços pareceu mostrar algum complexo psicológico que muitas vezes é fatal para jogadores que têm qualidade para outros voos. É ingrato avaliar o jovem defesa em definitivo, mas com a recente aposta em Aurélio Buta, da Equipa B, parece que o internacional sub-20 começa a levar a melhor sobre o jovem que regressou depois de passagem com sucesso aos 17 anos na Série A ao serviço da Sampdória. E ainda há André Almeida que, à partida, será o dono do lugar no arranque.

Ainda o centro da defesa gera preocupações, dada a idade de Luisão e o ano carregado de lesões de Jardel na temporada transacta. Com Lisandro a teimar em somar erros que levantam muitas dúvidas sobre a sua capacidade para vir a ser opção, e dois jovens da equipa B, Ruben Dias e Kalaica, cuja maturidade em lugar tão importante pode ser questionada, apesar do grande sucesso que Lindelof teve em situação semelhante.

Daí para a frente há poucas dúvidas, dado manter-se toda a equipa que conquistou o tetra, à qual se somaram várias novas opções pelo que a dor de cabeça será mesmo saber quem irá ainda sair pois não poderão ficar todos na Luz.



Em resumo, a porta do Estádio da Luz ainda se prevê que continue a girar até ao final do mercado. E a estratégia passa por aí mesmo, continuar a vender e a gerar mais-valias, e com isso dar espaço a que outros valores, vindos da B ou jovens estrangeiros recém contratados: Martin Chrien, Krovinovic (que ainda não se viu por estar a recuperar de lesão), Chris Willock, Haris Seferovic, Diogo Gonçalves e João Carvalho estão todos à espera da sua oportunidade.

Lisandro parece a mais, como referido acima, e Samaris poderá também ser uma boa venda dado que tem valor de mercado e não sobra muito mais tempo para fazer dinheiro com o grego que custou 10 milhões. Um dos avançados deverá também sair agora que chegou Seferovic, que tanto se tem destacado na pré-época, parecendo Jimenez com mais mercado e maior valor financeiro, mas talvez longe dos 60 milhões que Vieira revelou que esperava um dia fazer render com o mexicano. Há também Salvio e Carrillo, o argentino que por lesão falhou por mais do que uma vez a transferência milionária, mas que ainda poderá render uma verba acima de 20 milhões, e o peruano que nunca se afirmou na Luz e que com o excesso de extremos poderá rumar a outras paragens, nem que seja por empréstimo, para garantir a poupança de um dos ordenados mais altos dos encarnados e assegurar uma hipotética valorização do passe tendo em vista uma venda na próxima época, dado que na Luz continuará a ter pouco espaço.

Inversamente, como já referido, vai inevitavelmente entrar um novo guarda-redes e sobra a dúvida se chegarão defesas para o lado direito e para o centro. De resto, só mesmo uma saída poderá ditar mais entradas, o que não será uma inevitabilidade caso Samaris saia, dada a escassez de alternativas para o lugar de Fejsa, ou mesmo Pizzi, o que poderá também não surpreender dado ter custado 14 milhões e estar no ponto alto da carreira, sendo difícil que valorize mais do que o fez na época passada.

As dúvidas são muitas e ao contrário dos rivais, é o clube mais disposto a vender e que menos faz disso um drama. Por isso, é talvez o que só mesmo a 31 de agosto verá a sua contabilidade do plantel fechada.

Uma nota final que tem escapado nas análises que diariamente jornais e sites desportivos fazem quando prevêem as dispensas na Luz. Para ter 25 jogadores inscritos na Champions League, é necessário ter 4 atletas formados na Luz. Na época passada só teve 3 que eram Paulo Lopes, Lindelof e Gonçalo Guedes, baixando esse número para 2 quando Guedes saiu para o PSG. Presume-se que os responsáveis encarnados não queiram novamente ter um número reduzido de inscritos na liga milionária, pelo que entre Varela ou Paulo Lopes, Buta, Ruben Dias, Diogo Gonçalves e João Carvalho, a maioria acabe por integrar o plantel. Um será o Guarda-Redes, e a Varela ou Lopes se juntarão mais 2 ou 3 dos mencionados. E há ainda o pormenor de Horta e Pedro Pereira precisarem de fazer este ano para somar o 3º ano de formação e passarem a contar para a UEFA como formados localmente. Sendo que o lateral direito, poderá consegui-lo ainda mesmo que seja emprestado, desde que para o ano fique no plantel somando o 3º e último ano de formação na Luz. Já Horta não tem essa hipótese pois em caso de empréstimo já nunca contará como formado pelos encarnados.

Para os adeptos a estratégia no defeso não é a mais entusiasmante, quando vêem os rivais da 2ª Circular somar reforços e investir quantias pouco habituais para aqueles lados, mas a verdade é que nos últimos quatro anos a realidade não foi muito diferente e o resultado final foi sempre o mesmo, o título de campeão nacional para os homens da Luz.

segunda-feira, abril 17, 2017

O dérbi, a paixão e a razão








Muitos falam do Sporting-Benfica como um jogo que, basicamente, só interessa ao Benfica e ao FC Porto. Penso que falta aqui um detalhe, uma derrota dos verdes e brancos deita, em definitivo, por terra todas as possibilidades de os leões fazerem um brilharete nesta edição do campeonato. Não acredito, mesmo que consiga vencer o rival de Lisboa, que o Sporting chegue ao título mas tem condições ainda de aspirar ao segundo lugar.

E isso, neste momento, é possível. Difícil, sim, mas possível. E, vendo bem, não há assim um oceano a separar o Sporting desse objetivo... desde que, claro, bata o Benfica.

Reparo à minha volta e ouço muitos sportinguistas e benfiquistas a darem o favoritismo ao Sporting. Não percebo muito bem porquê, até porque nos dois últimos encontros entre os dois clubes, mesmo com o Sporting a jogar mais e melhor futebol, o vencedor deu pelo nome de Benfica. O que também é sinal de traquejo, experiência, estofo e sapiência perante situações complicadas. Para sustentar o que estou a dizer, convido quem torcer o nariz à minha linha de raciocínio a procurarem campeões nacionais em Alvalade. E mesmo no FC Porto temos Casillas, sim senhor, e Maxi Pereira, com um currículo bem recheado pela sua passagem na Luz.

Acredito que o Benfica vai tentar, como na época passada, entrar pressionante para ver se consegue marcar cedo e depois ficar na expetativa de um erro do seu opositor que possa vir a acontecer. E depois sabe perfeitamente que um triunfo em Alvalade é sinal de tetracampeonato.

Isto leva-me a outra questão. A quem interessa mais ao Sporting ver como próximo campeão nacional? Benfica ou FC Porto? Parece parva a pergunta, bem sei, mas eu acho que só vastíssimas razões de natureza emocional pode dizer que prefere ver o FC Porto campeão.

Passo a explicar porquê. É mau para o Sporting ver o Benfica campeão. Ainda por cima quatro vezes consecutivas, contudo, se o FC Porto conquistar o seu primeiro título em quatro anos vai fazer ressuscitar a conversa da bipolarização do futebol português. E nesta brincadeira o Sporting arrisca-se a ficar de lado por não ter requisitos para ir ao recreio. E é isso precisamente que o Sporting não deseja.

Depois, esta foi uma época de all-in do FC Porto que, na próxima época, terá mesmo de fazer 117 milhões de euros em vendas (está bem referenciado este desiderato no último relatório e contas) o que vai levar, inevitavelmente, a uma delapidação da qualidade do seu plantel. Falam-se em engenharias financeiras mas atenção que nesta matéria a UEFA não costuma deixar os seus créditos por mãos alheias.

Bem, para não me acusarem de não colocar em cima da mesa a possibilidade de o Sporting poder ser campeão ainda esta época eu, que não misturo em caso algum religião com fé clubística, cito apenas uma frase ouvida neste fim-de-semana por um sportinguista... muito sportinguista: "Deixe-me acreditar, não me esqueço que o Papa vem a Portugal em Maio."

PS - Como isto é um país a brincar ninguém ligou à arbitragem de um senhor chamado Hélder Malheiro no Tondela-Rio Ave. Aquilo não pode ser só uma tarde má, tem que ser mesmo incompetência

terça-feira, março 21, 2017

A falta de memória (e de gratidão) no futebol






Ponto prévio: Não considero Augusto Inácio o melhor treinador do mundo e nunca consegui perder cinco minutos a ver um jogo de uma equipa liderada por Claudio Ranieri.

Posto isto, pergunto: que mundo é este onde a ingratidão e a falta de memória grassam de uma forma desmedida?

Augusto Inácio deu ao Sporting um título que não conseguia há 18 anos tendo Jardel na equipa adversária e pegando num conjunto de jogadores que, tirando Schmeichel e André Cruz, disputavam, ano após ano, campeonatos para passar o tempo. Mas fê-los acreditar e obteve um título nacional em que poucos acreditavam quando rendeu um italiano que nunca fez nada de assinalável na carreira. O que lhe valeu? Pouco ou nada.

O mesmo Augusto Inácio, 17 anos depois, vence, ao serviço do Moreirense, FC Porto, Benfica e Sporting de Braga e ainda ergue uma Taça da Liga impensável para um clube de uma vila com 5 mil habitantes. E ainda perde os dois melhores jogadores. Mesmo assim, apesar de somar jogos atrás de jogos sem vencer enquanto tenta habituar a equipa à perda dos seus melhores elementos, mantém o Moreirense fora da zona de despromoção. Resultado: é despedido.

Claudio Ranieri foi campeão inglês no Leicester, que não é bem a mesma coisa que ser num Chelsea, United, City ou mesmo Tottenham. Falam do demérito dos outros, sim, é verdade, mas ele deve ter tido algum mérito. Não gostei do futebol do Leicester, eu que sou um apaixonado pela posse de bola na mesma medida em que sei apreciar uma equipa que saiba fazer boas transições como o Mónaco de Jardim. O Leicester de Ranieri não era nem uma coisa nem outra, mas ganhou. E está provado que os maus resultados desta temporada não são um exclusivo do trabalho do italiano. Ranieri assinou a rescisão e mal pousou a caneta o Leicester desatou a ganhar. Estamos a falar da mesma equipa, formada pelos mesmos jogadores, que continuam a treinar nos mesmos campos e a jogar no mesmo estádio.

Não, não são os melhores do mundo, Ranieri então não é mesmo, mas temos que ter memória. E, afinal, Inglaterra não fica assim tão longe de Portugal

segunda-feira, março 20, 2017

O trauma de ser adepto do Benfica


Vem este texto a propósito da larga depressão que assolou os adeptos benfiquistas entre o final da noite de sábado até às 20h deste domingo. E visa traçar as características gerais da maioria dos adeptos sub-40 dos encarnados.

O adepto benfiquista é assim, está sempre tudo mal. A começar pelo treinador, a passar pelo presidente, até aos jogadores e às modalidades. Mas o mais curioso é que adepto benfiquista, com até 40 anos, praticamente nunca viu o Glorioso que lhe contaram que o Benfica foi na geração dos seus pais e avós. Ao longos dos últimos 20 anos, com exceção do atual tricampeonato, viu o Benfica vencer duas miseráveis vezes. Viu o clube passar a sua pior fase, sem vitórias, sem dinheiro e quase na falência, sem formação, sem modalidades. Nada ganhava.

Ao longo dos últimos anos os momentos de glória regressaram. No futebol, com 4 títulos em 7 anos. Duas finais europeias, várias Taças de Liga e ainda mais uns troféus entre Taça de Portugal e Supertaça. Nos escalões mais jovens começam a brotar talentos, vários já vendidos por vários milhões para clubes de top europeu, como Renato Sanches ou Gonçalo Guedes, para além de duas presenças na final four da Youth Champions League e a única equipa europeia a marcar sempre presença nos quartos-de-final da competição nas suas quatro edições. Nas modalidades as vitórias têm sido mais do que muitas, no Hóquei, onde até dois títulos europeus foram ganhos nos últimos anos, no Voleibol, no Basquetebol, no Futsal e até um ou outro no Andebol onde apesar de tudo o Benfica investe menos face aos rivais.

Porém, se formos navegar nas redes sociais, blogs (como o NGB) ou no mais popular fórum online dedicado ao clube, o Ser Benquista, e estivermos completamente out em termos de informação desportiva, pensamos que ainda estamos em plena década de 90, com Vale e Azevedo à frente dos destinos do clube e com o ponto mais alto da atualidade a ser o patrocínio a uma equipa italiana de pólo aquático...

O Presidente é acusado de nada fazer de jeito pelo Benfica e de apenas estar preocupado em vender jogadores (de facto parece ser uma preocupação a ver pelo quase roadshow em período de janela de transferências). Qualquer entrevista que dá é escalpelizada ao detalhe sempre em tom crítico. Mas quer-me parecer que por muitos erros que tenha cometido e muitos defeitos que tenha, foi este presidente quem tirou o Benfica do buraco e voltou a colocá-lo na frente do futebol nacional, ou um tricampeonato era algo a que estavam habituados?

Quando passamos para o treinador, o tom da crítica sobe ainda mais. "Não é um treinador à Benfica" é a crítica mais comum. O que será isso? Jesus não o era pois era mal educado e não apostava nos jovens. Rui Vitória aposta nos jovens mas é demasiadamente educado e apesar da equipa ter tido o recorde de sempre de pontos na Liga NOS no primeiro ano à frente da mesma e liderar este ano a Liga quase desde início apesar de mais parecer treinador da secção de Ortopedia do Hospital da Luz, isso é insuficiente. Porque para o benfiquista sub-40, o Benfica tem de ganhar tudo. Todos os jogos. No mínimo por 5-0. E ganhar a Champions porque o Real Madrid ou o Barça ao pé do Benfica são Aroucas e Tondelas da vida.

Não havia aposta nos jovens e agora há, mas nem assim Rui Vitória satisfaz. Basta ler este "belo" texto ou este, que apesar de concordar com toda a parte inicial, quando chega às observações ao treinador do Benfica, consegue a hilariante comparação com o técnico italiano Sarri, do Nápoles, que nunca ganhou nada na vida mas fuma no banco e isso mostra uma fibra qualquer merecedora de orientar os destinos das águias. (NOTA: É um excelente treinador... os argumentos é que são estapafúrdios)

Ora em conclusão, um treinador à Benfica é alguém a quem ganhar não chega, certo? E ganhar com jovens da formação no onze também não?

Mas esta depressão constante do adepto benfiquista sub-40 após qualquer derrota ou empate nota-se igualmente noutros quadrantes. Por exemplo nas camadas jovens e equipa B. Frequentando com regularidade o fórum Ser Benfiquista, vemos que Hélder Cristóvão, apesar de ter ajudado a lapidar vários talentos antes da chegada à equipa A com sucesso, é pior treinador que um qualquer Vercauteren desta vida. E João Tralhão, que apesar de também contribuir decisivamente para tantos talentos estarem já na ribalta, e de ser um dos grandes obreiros pelo sucesso internacional dos juniores, é criticado por ser incapaz de ganhar o campeonato de juniores mesmo tendo mais de 6 titulares e estrelas da sua equipa a jogar na B? Isto é o Benfica meus amigos, aqui tem de se ganhar o campeonato de juniores, juvenis e iniciados nem que seja com os miúdos de 5 anos que pagam para andar na escola do Benfica!

E termino com as modalidades, onde o maior exemplo é o treinador do Hóquei, Pedro Nunes, que é constantemente criticado neste fórum apesar de ter ganho os últimos dois títulos nacionais quase sem derrotas, de ser bicampeão da Europa nos últimos três anos, etc. Qualquer treinador de qualquer modalidade é para o adepto encarnado um alvo a abater. À primeira derrota, rua com eles todos que isto é o Benfica e no Benfica não ser perde.

Não é fácil por vezes ser adepto deste clube. Parece que todos têm o rei na barriga e acham que os rivais, seja em que modalidade for, não existem, porque todos estão abaixo do Benfica e qualquer ano onde haja três empates ou 2 derrotas, mesmo sendo campeão de qualquer modalidade, fica abaixo do que estes adeptos querem.

O que se passou este fim-de-semana após o empate na Mata Real e até ao empate do Setúbal no Dragão, foi o paradigma do que aqui descrevi. Na realidade isto não é mais do que o espelho do adepto traumatizado, que é a melhor forma de descrever o adepto do Benfica. Foram 20 anos de traumas e por isso, apesar de hoje o Benfica dominar o desporto português em quase todas as modalidades e ser tricampeão de futebol, que é obviamente o que mais importa aos fãs de qualquer equipa, à primeira dúvida ou vacilação submergem numa onda de pessimismo que vão regressar os tempos de seca e míngua de vitórias. Quantos anos mais de vitórias serão precisos para ultrapassar este trauma?

Curioso que o SLB disponibiliza agora a sua clínica no Estádio para os seus sócios. Talvez o melhor seja abrir um consultório de psiquiatria gratuito...







quinta-feira, março 09, 2017

Um filme já antes visto



O resultado que o Benfica fez em Dortmund não me parece de todo anormal, o que me parece desajustada da realidade é a maneira como o tricampeão nacional se apresentou na Alemanha. Com medo, com cautelas e um sistema de jogo totalmente diferente daquele que costuma utilizar e também do que normalmente treina.

Isto faz-me lembrar aquela velha moda dos treinadores portugueses de reforçar o meio-campo sempre que jogavam diante de colossos europeus. Por não ter feito isso é que José Mourinho teve sucesso, mas também é preciso saber fazê-lo. Que o diga Jorge Jesus que raramente deixou de utilizar o 4-1-3-2, principalmente no Benfica, mas sem o saber adaptar às exigências de uma competição de uma cilindrada mais elevada e que nada tem a ver com o futebol português.

O Benfica do presente exibe uma dupla faceta; forte com os fracos e fraco com os fortes. Antes de expressar o meu raciocínio sobre este Benfica nada há a apontar a Rui Vitória, cujo trabalho tem superado todas as expetativas. Feita esta declaração, sou obrigado a dizer que com adversários de poderio semelhante ou superior, e com este treinador, o Benfica apenas se mostrou mais forte em casa com o FC Porto na época passada - para mim o melhor jogo em futebol explanado no relvado na era Rui Vitória - e perdeu.

Nesta temporada em Nápoles, o Benfica já tinha jogado com André Almeida no meio-campo, ontem voltou a fazê-lo. E nos dois jogos encaixou quatro golos, amenizados em Itália por uma boa ponta final.O problema não é André Almeida, um dos futebolistas mais injustiçados do futebol português. A grande questão é que não se pode ter dois jogadores - André Almeida e Samaris - posicionados à frente da defesa sem qualquer capacidade de construção. O Benfica, em Dortmund, só mostrou algum critério quando Pizzi baixava e assumia as rédeas do jogo.

Como disse, e bem, Carlos Daniel (ver vídeo com a sua análise em baixo), o Benfica não pode jogar à Tondela no campo do Dortmund, como, afinal de contas, Pizzi deixou sub-entendido no final do encontro ao reconhecer que a estratégia passava por aguentar defensivamente e depois tentar um golo no contra-golpe.

Fico com a sensação que com alguma ambição o Benfica podia ter seguido em frente. Ou então, bastando-lhe ser igual a si próprio. Porque sempre pensei que o Dortmund se quisesse apurar-se teria que fazer sempre três golos pois não estava a ver o Benfica a sair da Alemanha sem marcar.

Esta falta de competitividade das equipas portuguesas na Europa do futebol tem-se vindo a acentuar - o Benfica e o Sp. Braga da última temporada são as exceções - e tem muito a ver, na minha opinião, com a falta de qualidade do nosso campeonato. Enquanto os clubes mais pequenos não abandonarem o servilismo aos grandes, com empréstimos e relações menos saudáveis, jamais teremos um campeonato forte. E sem um campeonato forte, não podemos ter as nossas melhores equipas preparadas para dar cartas na UEFA.

O próprio V. Guimarães, que é um clube com uma identidade muito própria e com massa adepta que não coloca nenhum dos grandes acima do emblema da terra, tem jogadores emprestados por FC Porto e Benfica como já teve na época passada do Sporting. E se é assim com o V. Guimarães, não se pode levar a mal que outros clubes adotem a mesma política.

Haverá vontade de mudar?

Águia abatida com febre amarela


Não sei se há febre amarela no Gabão, mas se não há a águia conseguiu o feito de apanhar a doença graças ao um cidadão deste país que vive na Alemanha. Depois do milagre da vitória por 1-0 na Luz, esperar outro em Dortmund obrigava a 6 milhões a irem a Fátima ver o Papa no dia 13 de maio, o que não dava jeito nenhum pois a hotelaria está lotada ou então a preços tão caros que nem quero imaginar quando se alugarem quartos para ver o Sporting campeão (é que é coisa mais rara que o Papa vir a Portugal...).

Podíamos dizer que o Dembele devia ter sido expulso (e se devia!) ou que o quarto golo é fora-de-jogo, para justificar que a coisa até podia ter sido menos má, ou quem sabe até desse para passar. Só que não vale a pena. O Dortmund é de outra galáxia. É uma verdadeira trituradora ofensiva. Não defende muito bem, mas ataca tanto que parece uma debulhadora que leva tudo à frente. Nos últimos três jogos foram "só" 16 golos! E em 20 jogos só não marcou na Luz. Pelo menos foi o que disse o Rui Vitória e se o ditado diz que mais se depressa se apanha um mentiroso que um coxo, andando o homem coxo há muito tempo, é porque deve ser verdade (nem vou confirmar que não quero ver mais nada amarelo hoje... ainda bem que a minha mulher não é loura!).

O Benfica até se bateu bem. Voltou a sofrer um golo a abrir na Alemanha, depois de igual feito em Munique há um ano, mas depois aguentou-se bem, equilibrou, até teve uma ou outra oportunidade na primeira parte, contra quase nenhuma do Dortmund. E a abrir o segundo tempo aquele pequenito argentino que conseguiu ser o melhorzinho do ataque, levantando a questão de porque não joga para andar o Carrillo ou o Salvio em campo, falhou o empate na melhor oportunidade do Benfica.

A partir daí foi o que se sabe. O Eliseu e o Lindelof abriram uma avenida na Alemanha, devem ter sido contagiados pela famosa produtividade dos alemães e em dois dias em Dortmund asfaltaram uma boa parte do relvado, e o Aubameyang mostrou que na Luz estava só a brincar para a coisa não ser tão pesada no total da eliminatória. Isso são feitos para outro clube de Lisboa...

Há três semanas escrevi aqui que era preciso reforçar o meio-campo. Não adivinhava era que o Fejsa e o Felipe Augusto se iam lesionar... Com o Samaris e o André Almeida o efeito não é o mesmo. Nem foi por aí, apesar de tudo, o pior foi mesmo o Salvio estar em campo. Já pareceu um extremo de elite até começar a partir braços, pernas... entretanto deve ter fraturado o cérebro mas não foi comunicado para não desvalorizar ainda mais o argentino... É que o querer vendê-lo já é tão óbvio que só isso explica que continue em campo...

Claro que podiam ter jogado outros, a começar pelo Rafa, na minha opinião, mas isso interessa muito pouco. De uma forma ou de outra o fim ia ser o mesmo, sejamos sinceros. É muito bonito chegar aqui mas isto já é outro campeonato para a realidade portuguesa...

Para a semana é a vez da Juve despachar o Porto e sobra a luta pela título na Liga NOS para animar a malta que a Europa, mais uma vez, é motivo para depressão tuga!

segunda-feira, março 06, 2017

Bruno de Carvalho... e agora?



Confesso que fiquei surpreendido com a legitimação que Bruno de Carvalho recebeu dos sócios. 86% da votação é um número esmagador e que deixa o atual presidente com uma margem que precisa de saber capitalizar. Saberá?

Vamos ver.

Bruno de Carvalho conseguiu fazer um mandato de quatro anos em que melhorou muito o clube. Não era difícil, Godinho Lopes deixou o Sporting completamente estrangulado financeiramente com um PER em cima da secretária que previa o fim das modalidades, com a exceção do futsal que passava para a SAD. A equipa de futebol estava no sétimo lugar e sem dinheiro para ordenados.

Nestes quatro anos, o Sporting revitalizou as modalidades que já tinha, chamou à tutela do clube o hóquei em patins e fez regressar o ciclismo.

No futebol soube sempre escolher bem os treinadores, teve a ousadia de resgatar Nani, ganhou uma Taça de Portugal e uma Supertaça e ainda bateu o recorde de pontuação do Sporting no campeonato que, valha a verdade, de nada lhe valeu.

Mas o Sporting agora bate-se de igual para igual com o Benfica e o FC Porto. Não nos dias que correm, mas genericamente os seus rivais já não olham para o Sporting como um clube sem capacidade de lhes fazer frente. Mérito de Bruno de Carvalho.

Não lembrar isto é ter memória curta e o grande problema de quem analisa é que faz os seus balanços tentando denegrir as atitudes (boas e más) de quem não gosta e exponenciar os gestos de quem tem, alegadamente, um comportamento exemplar no quotidiano.

Bruno de Carvalho se tivesse adotado uma pose de estadista, de pessoa contida, discreta, sem voltas olímpicas ou frases provocatórias seria elogiado por tudo e todos e, se calhar, não tinha ninguém a cair-lhe em cima.

A comunicação é o grande problema do atual presidente do Sporting. Falta-lhe resistir à tentação de controlar uma área que não domina e uma escola de comentadores nas televisões que o Benfica tem e que poupa Luís Filipe Vieira ao desgaste. Bruno de Carvalho não tem essa escola, nem o passado de sucesso do FC Porto que ainda granjeia respeito, por isso assume todas as guerras e desce ao nível dos comentadores e de pessoas que estão em patamares abaixo do seu. E enquanto faz isso não faz outras coisas.

Disse, durante o debate com Pedro Madeira Rodrigues, que nos próximos quatro anos ia resguardar-se mais.

Conseguirá? Se o conseguir pode dizer-se que dá um enorme passo, mas o discurso da vitória, mal foram conhecidos os resultados eleitorais, não são, decididamente, um bom prenúncio. Pode ter sido um momento de empolgamento? Pode, mas Bruno de Carvalho tem muitos momentos desses que leva a terceiros sentirem-se, com legitimidade, ofendidos.

No futebol, ao prometer (palavra cara em campanhas eleitorais) que o Sporting vai ser campeão mais do que uma vez nos próximos quatro anos deixou-o refém da bola entrar na baliza. Ou seja, se o Sporting não for campeão nos dois próximos anos a oposição, que agora segue para férias por via dos resultados eleitorais, vai estruturar-se e com figuras de peso. Não com Pedro Madeira Rodrigues - que com os 9% de votos que recebeu dos associados deve ter hipotecado qualquer possibilidade de voltar a ter uma oportunidade de ser presidente do Sporting.

Basicamente Bruno de Carvalho está refém da sua equipa de futebol, não há outra forma de dizer isto, mesmo que consiga vender jogadores como nunca ninguém vendeu em Alvalade.

Se lermos o programa eleitoral de Bruno de Carvalho percebemos que o diretor desportivo é Bruno de Carvalho. Percebemos que o responsável máximo da Academia é Bruno de Carvalho. O presidente do Sporting devia saber delegar em pessoas equilibradas, que saibam dos seus pelouros, que tenham liberdade para atuar e coragem de contrariar o presidente e de ir contra a sua opinião em nome dos superiores interesses do clube. Acredito que isso já aconteça com Carlos Vieira, o Ministro das Finanças do Sporting, mas surgirá em mais algum departamento nevrálgico do universo leonino? Um líder, um verdadeiro líder, tem que se saber rodear e ouvir quem está à sua volta e filtrar as melhores ideias e opiniões.

Para o Sporting é uma pena que Bruno de Carvalho não consiga alterar o seu comportamento porque tem feito um trabalho muito meritório. Mas do sucesso, seu e do Sporting, dependerá a sua capacidade de fazer uma introspeção que o leve a diminuir o efeito dos seus defeitos e a aumentar o alcance das suas virtudes.

Para o fim deixo uma dúvida. E Jesus? Na campanha eleitoral, o treinador foi um dos temas fortes e Bruno de Carvalho chegou ao ponto de dizer que o quer manter até ao fim do mandato que agora se inicia, querendo isto dizer que já pensa numa renovação do contrato que termina em 2019. No entanto, se os jogos que faltam até final do atual campeonato não terminarem em vitórias na sua esmagadora maioria ninguém acredita que Bruno de Carvalho trave qualquer investida de um clube... estrangeiro. E depois basta-lhe saber escolher como tem sabido até ao momento.

sexta-feira, março 03, 2017

Rafa, um problema de definição (e comodismo?)


O problema de muita gente que vê futebol é que se limita a apreciar e a avaliar um jogador por tudo o que faz com bola. Isso é redutor e, por isso, é que é diametralmente diferente ver um jogo pela televisão, em que vimos (quase e em exclusivo) tudo o que mete bola, mas não apanhamos nada do restante nos mais diversos momentos do espetáculo.

Esta introdução serve para falar de Rafa. Não estamos a falar de um futebolista qualquer. Rafa já foi convocado para um Mundial, é um campeão europeu por mérito e foi contratado pelo tricampeão nacional de futebol. A isto temos de acrescentar o facto de ter sido a transferência mais cara do último defeso em Portugal e que motivou uma guerra sem quartel entre os três grandes.

Gosto de Rafa, considero-o um futebolista valiosíssimo mas aquilo que mais gosto neste extremo - e não, definitivamente, segundo avançado - tem a ver com os momentos em que não tem bola. Defende bem, tem uma reação fantástica à perda da bola que se calhar não vejo em mais nenhum extremo, ajuda o seu lateral e ainda cobre com empenho espaços na zona central em missão defensiva. Ter um futebolista destes no plantel é um luxo... e dos grandes.

Claro que Rafa é imprevisibilidade, velocidade, magia na ponta das botas, principalmente nas diagonais da esquerda para o centro, mas tem um problema de base e que, dificilmente, conseguirá corrigir com uma elevada taxa de eficácia aos 23 anos; a definição. Não é um ótimo finalizador e tem uma enorme dificuldade em perceber qual é a melhor solução nos derradeiros 20 metros, o que poderá ser determinante no futuro da sua carreira.

Esta análise é a análise do momento, porque não é a mesma coisa representar o Sporting de Braga e representar o Benfica, mas há sempre sinais a considerar e um deles é a falta de protagonismo de Rafa. Um futebolista mais ambicioso a jogar na sua posição e com as ferramentas que dispõe chamaria a si o centro das atenções. Claro que pode sempre dizer-se que é um futebolista de equipa, solidário, humilde mas os futebolistas que jogam mais perto da baliza adversária precisam de aquela dose de irreverência que não deteto em Rafa. Será comodismo? Talvez, mas aquilo que oferece, para terminar com a ideia inicial, é superlativo nomeadamente para quem vê o campo todo e está atento ao seu futebol quando a bola não está em seu poder.