quinta-feira, outubro 20, 2016

Os desequilíbrios do leão


A pergunta que se coloca quando olhamos para o Sporting 2016/2017 é como é possível uma defesa que tem os mesmos titulares que na temporada transacta ter sofrido já, em sete jornadas (um quinto do campeonato), praticamente metade dos golos que sofreu em 2015/2016. Nos últimos sete jogos oficiais (onde se incluem 4 jogos da Liga NOS, 2 da Liga dos Campeões e 1 para a Taça de Portugal) sofreu 12 golos! Não sofrendo apenas em dois desses jogos, em Famalicão, para a Taça, contra um adversário menor, e na Champions, em casa, frente ao menos cotado adversário do grupo, o Légia de Varsóvia.

Jorge Jesus tem ilibado a sua defesa, referindo que nem tudo se explica por um sector e que é preciso olhar para a equipa como um todo. Não podia estar mais de acordo (o que no caso é raro pois são poucas as vezes em que concordo com o treinador português...). O grande problema do Sporting chama-se João Mário.

O médio formado em Alvalade, campeão de Europa no último verão, transferiu-se para o Inter de Milão no final do defeso e apenas foi opção na primeira jornada na vitória caseira sobre o Marítimo. É sem dúvida um jogador de excelência e com características ofensivas, de construção. Porém, é nos equilíbrios da equipa que João Mário faz mais falta.

Com o agora jogador do Inter, a equipa leonina jogou toda uma época num 4-4-2 que muitas vezes se assemelhava ao 4-4-2 em losango do primeiro ano de Jesus na Luz, onde Ramires desempenhava as mesmas funções. João Mário não é um extremo (basta ver que agora em Milão é muitas vezes utilizado em posições centrais, que é a sua origem) pelo que os seus movimentos verticais não são feitos na base da velocidade e do repentismo, mas da sua inteligência, da sua capacidade de passe e visão de jogo. A mesma inteligência que usava no momento defensivo, apoiando o lateral por fora ou ajudando William e Adrien nos movimentos interiores de equilíbrio tático.

Saiu João Mário e quem entrou? No onze Gelson Martins. No plantel Joel Campbell e Markovic. O jovem Gelson foi quem se afirmou e assumiu o lugar, sendo certo que dá à equipa coisas que João Mário não dava. O tal repentismo, capacidade criativa no 1x1, velocidade. Mas não dá estabilidade defensiva. E isso nota-se até no lado contrário, onde Bryan Ruiz acaba por expor mais as suas debilidades na recuperação da bola, algo que não acontecia com João Mário em Alvalade.

Já as alternativas, Campbell e Markovic, mostraram que são ainda piores para o equilíbrio da equipa. O sérvio já tem jogado só como 2º avançado por isso mesmo, enquanto o costa-riquenho desapareceu de circulação depois do naufrágio nos primeiros 45 minutos de Vila do Conde, depois da ideia peregrina de JJ de colocar Campbell à frente de Bruno César, com o brasileiro como lateral esquerdo. Em 45 minutos o Rio Ave humilhou os leões e nunca mais Campbell voltou a ser opção a titular, somando meras aparições em três jogos onde somando todos os minutos nem chegam a 45 minutos.

Olhando para o plantel dos leões, são muitas as dúvidas que se levantam para solucionar este problema que pode comprometer as aspirações verde e brancas na temporada. Gelson é indiscutível pelo que não é hipótese abdicar do jovem extremo para equilibrar a equipa. E à esquerda, são poucos os que mostram qualidades para poder desempenhar a função que João Mário fazia à direita. O único que poderá ser alternativa é o brasileiro Bruno César. Mas isso obriga a colocar Bryan Ruiz atrás de Bas Dost, abdicando de Markovic, algo que Jesus parece não querer.

Ou então abdicar dos dois avançados e colocar Gelson e outro extremo (seja Campbell, Ruiz ou Markovic) juntos a Bas Dost, reforçando o miolo com Elias, Meli ou mesmo Bruno César junto de Adrien (quando voltar) e William Carvalho.

Reequilibrar o leão é o grande desafio que Jesus tem pela frente. Depois de arranque a toda a força, o início da Champions parece ter exposto os defeitos gritantes que a equipa tem. E ainda faltam jogos contra Dortmund na Alemanha e em Alvalade frente ao Real Madrid, pelo que os leões não poderão abdicar do seu onze mais forte, mesmo que fiquem já fora de hipótese de seguir para a fase seguinte da prova europeia, pois correm o risco de poderem ser ultrapassados pelo Légia na última jornada e nem conseguirem o objetivo menor que é seguir para a Liga Europa, que Bruno de Carvalho já anunciou ser um objetivo para o seu próprio mandato.

ESTE TEXTO FOI TAMBÉM PUBLICADO NO BLOGUE BOM FUTEBOL


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